segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Livra-se do peso da calúnia

Recebi esse artigo um belo dia de manhã através do e-mail diário da DesiringGod.org e achei que valeria a pena traduzir para o proveito dos irmãos e irmãs em Cristo. Traduzi e solicitei permissão de DesiringGod.org para a publicação virtual da minha tradução desse texto, entretanto, sem obter resposta. Posto-a aqui, então, enfatizando a natureza não-profissional da tradução e que seja feito apenas uso pessoal do artigo traduzido. Crédito ao autor Jon Bloom e à DesiringGod.org, onde estão disponíveis gratuitamente centenas de artigos incríveis, frutos de imensa sabedoria, (inclusive vários em português) para a aprendizagem e o crescimento espiritual do público cristão. O texto original "Lay Aside the Weight of Slander" encontra-se disponível aqui. Bom proveito e que Deus abra nossos olhos para esse pecado tão destrutivo nas nossas igrejas.


Escrito por Jon Bloom



Deus odeia a calúnia (Provérbios 6.16,19). É perverso. É por isso que Paulo lista a calúnia como comportamento daqueles que odeiam a Deus (Romanos 1.30) e porque Tiago chama de comportamento demoníaco (Tiago 3.15-16). A calúnia ocorre quando alguém diz algo que não seja verdadeiro sobre outra pessoa o que resulta, intencional ou não intencionalmente, no estrago da reputação da outra pessoa. Quando isso acontece, a calúnia transforma-se num fardo de divisão, desencorajamento e confusão que afeta várias, se não inúmeras, pessoas.

Por causa do seu poder venenoso, é uma das estratégias principais do adversário para destruir relacionamentos, e deter e derrubar a missão da Igreja. Devemos estar atentos a esse tipo de pecado contagioso e livrarmo-nos dele (Hebreus 12.1).


A sutileza da calúnia

Às vezes, falar algo falso e prejudicial sobre alguém é ousado e indelicado. No entanto, muitas vezes, a calúnia é insidiosamente sutil, especialmente porque a ouvimos durante toda a nossa vida em quase todos os contextos e tornamo-nos acostumados a ela.

A calúnia pode usar dezenas de máscaras. Mencionarei algumas das mais comuns.

Às vezes passamos informações caluniosas que parecem apenas boatos inofensivos, mas acabamos por deixar os nossos ouvintes com uma percepção injustamente negativa do outro. Às vezes embelezamos o boato com informações ou suavizamos um relatório negativo sobre alguém, a fim de melhorar a impressão que nosso ouvinte tem de nós mesmos.

Às vezes, nós temos uma preocupação muito real por alguém, mas compartilhamos isso com uma pessoa que não pode nem se beneficiar de ou ajudar com a preocupação. Fazemos isso porque nós simplesmente queremos que nossos ouvintes pensem o pior de uma pessoa em particular. Ou, se compartilhamos a informação com a pessoa certa, podemos às vezes dar corda às nossas especulações ou presunções, misturando-os quase imperceptivelmente com os fatos perante nossos ouvintes, distorcendo a verdadeira preocupação para que a reação resultante seja aquilo que nós desejamos.

O efeito líquido de todas as formas de calúnia é a desvalorização injusta da reputação de outra pessoa.


Caluniar é roubar

Essa desvalorização está no cerne do que torna a calúnia perversa. A Bíblia nos diz: "A boa reputação vale mais que grandes riquezas; desfrutar de boa estima vale mais que prata e ouro" (Provérbios 22.1). No contexto, a boa reputação representa o caráter da pessoa, que é a parte mais valiosa da sua identidade. Uma boa reputação é como os outros nos veem. E como relacionamentos funcionam na base da troca da moeda de confiança, a reputação é um bem muito precioso.

Portanto, sempre que lidamos com a reputação de uma pessoa — ou seja, como as outras pessoas a veem — estamos sendo mordomos de um tesouro que pertence a eles. Se nós prejudicarmos a reputação de outra pessoa injustamente, estamos roubando o seu bom nome; estamos vandalizando o seu caráter. Isso causa um estrago muito real e, muitas vezes, duradouro às pessoas, pois restaurar um nome desvalorizado é muito difícil. Quem saberá quanto amor, alegria, conselho, conforto e oportunidade que tomamos das pessoas ao descuidarmos da sua reputação?

Deus sabe. E Ele odeia isso. Deus odeia quando falamos mal do Seu nome (Êxodo 20.7) e quando falamos mal dos outros (Tito 3.2). Ele nos responsabilizará por toda palavra frívola que falarmos (Mateus 12.36). Este é o grande incentivo para livrarmo-nos "de toda maldade e de todo engano, hipocrisia, inveja e toda espécie de maledicência"(1 Pedro 2.1).


Lute contra a calúnia primeiramente em si mesmo

A primeira calúnia que devemos calar é aquela que se encontra dentro de nós. Cheio de orgulho maligno, nossa natureza pecaminosa não está interessada na verdade, mas na glória própria. Procura então manipular os outros através da calúnia (ou da bajulação) para o nosso próprio benefício egoísta. O pecado (e, assim, nossos molestadores demoníacos) se aproveita de uma preocupação ou uma ofensa que recebemos de outro e procura distorcê-la de forma que suspeitemos o mal dessa pessoa. Suspeitar mal de outro significa atribuir a ele qualidades imaginadas ou exageradamente negativas que não existem. Muitas vezes, isso começa com fantasias privadas as quais alimentamos com nossas preocupações e as ofensas, imaginando-nos justificados em nossa justiça e os outros condenados no seu mal. Mas, na verdade, estamos apenas repassando os nossos pensamentos perversos para as imaginações de outras pessoas. Isso é a nossa natureza pecaminosa falando. Somos tolos se dermos ouvidos a ela.

E quando a nossa calúnia transborda de nós para os outros — e isso acontecerá inevitavelmente se não a eliminarmos o quanto antes — ela será indulgência egoísta e covardia.

Calúnia é indulgência, pois muitas vezes o que realmente estamos buscando é o prazeroso som auto-bajulador dos nossos ouvintes aprovando ou admirando a nós mais do que àquele que estamos caluniando. Estamos roubando a reputação de outro para obtermos a droga da auto-bajulação. 

Calúnia é covardia, pois é uma forma de nutrir uma preocupação ou uma ofensa e ganhar simpatizantes sem criar coragem para levá-la diretamente à fonte. Nossas racionalizações para isso podem ser inúmeras, mas essencialmente não temos a coragem para lidar de vez com o assunto. Isso significa que o nosso próprio caráter é de natureza questionável, já que estamos dispostos a vandalizar o caráter de outros para ganhar aliados.

Nós devemos ser implacáveis em ignorar e silenciar nossas naturezas pecaminosas caluniadoras.


Ajudando uns aos outros na luta contra a calúnia

Quando alguém calunia outra pessoa diante de nós, devemos lembrar que não estamos lutando principalmente contra carne e sangue, mas contra forças espirituais do mal (Efésios 6.12). Satanás sabe que a calúnia enfraquece e divide igrejas, envenena amizades e fratura famílias. Ele sabe que a calúnia extingue o Espírito Santo, mata o amor, dá curto-circuito na renovação espiritual, mina a confiança e suga a coragem dos Santos. Portanto, nossa meta, particularmente no contexto da igreja, é ajudar uns aos outros lançar fora fardos demoníacos e driblar obstáculos satânicos.

Como então fazemos isso? A melhor forma de combater a calúnia é tornar-se uma pessoa que não seguro caluniar por perto. Devemos perguntar uns aos outros:
  • Você compartilhou essa sua preocupação diretamente com a pessoa? Eu estaria disposto a ir com você para falar com ela.
  • Só para esclarecer, eu deveria realmente saber dessa informação? Você quer que eu te ajude a buscar a reconciliação?
  • Você está fazendo tudo que for possível para livrar-se de "toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia"? (Efésios 4.31)
  • Como posso ajudá-lo a proteger a reputação dessa pessoa como um tesouro? (Provérbios 21.1)
Em outras palavras, amigos não deixam amigos caluniar. Amigos não permitem que seus amigos ajam como inimigos de Deus (Romanos 1.30). Quanto mais amamos as pessoas, mais odiamos calúnia, porque um caluniador odeia suas vítimas (Provérbios 26.28).

Lembremo-nos de que somos mordomos do tesouro do outro: o seu bom nome. Tomemos a decisão de evitar o compartilhamento de informações que são desnecessariamente prejudiciais à reputação de outra pessoa e a arrepender-nos a todos os que foram afetados se já somos culpados disso. Busquemos silenciar a nossa natureza pecaminosa caluniadora e graciosamente dar e receber ajuda de outras pessoas quando um de nós tropeça, talvez inconscientemente, na calúnia. Façamos dano às forças de Satanás, falando a verdade em amor (Efésios 4.15).

Deixemos de lado o destrutivo peso do pecado da calúnia.


Uma palavra sobre calúnia e situações abusivas

Há momentos em que é necessário e não calunioso discutir ou compartilhar informações que sejam prejudiciais para a reputação de uma pessoa. Lembre-se, a calúnia são informações prejudiciais falsas. Mas, por vezes, verdadeiros pecados de uma pessoa são de tal natureza que devem se tornar públicos por uma questão de justiça e de segurança individual. Aqui estão apenas alguns exemplos de cenários:
  • Comunicando a existência de pecado e abuso confirmado e documentado a pessoas apropriadas em posições de autoridade que podem fazer algo sobre isso.
  • Participar como uma pessoa adequada em autoridade espiritual, e em alguns casos civis, na investigação de tal relatório de algum comportamento pecaminoso, e talvez abusivo, com a intenção de confrontar essa pessoa ou limpar o seu bom nome.
  • Discretamente, e sem detalhes desnecessários, informando a outros sobre uma pessoa com comportamento pecaminoso ou abusivo confirmado, porque, sem esse conhecimento, alguém pode sofrer dano real.
  • Buscando conselho pastoral sobre como navegar em uma situação complexa e ambígua, fazendo tudo o que você pode fazer para proteger a reputação de uma pessoa de danos desnecessários.
As instruções de Jesus em Mateus 18.15-17 deve nos guiar em tais casos difíceis. E Jesus espera que nos comportemos prudentemente neles, sempre buscando preservar a reputação dos outros, tanto quanto possível, sabendo que fofocas e difamação são sempre tentações que esperam às nossas portas.

Em uma era de mídia social, que não consegue restringir a divulgação de informações como as eras passadas, sejamos ainda mais lentos para postar ("tardio para falar" — Tiago 1.19) análises, especulações e comentários potencialmente caluniadores sobre outras pessoas ou grupos de pessoas, mesmo que a calúnia seja feita abertamente na nossa cultura saturada de calúnia. Todas as sérias advertências bíblicas sobre calúnia ainda se aplicam, o que deve fazer todos nós, especialmente aqueles de nós com "plataformas", tremer.

3 comentários:

  1. Obrigado pelo trabalho de tradução Hendrika!

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  2. Texto de exposição bíblica, clara, coerente, sábia!

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  3. Muito bom! Edificante! Deus tem me ensinado bastante com os desafios do dia a dia a começar s discernir sobre as palavras que sai da minha própria boca e como me voltar mais a Deus para saber a hora certa de falar, de silenciar, o que falar, o que não falar, etc. É um assunto muito importante! Eu tbm gosto muito de acompanhar as postagens do DesiringGod.org. Obrigada por traduzir, vou compartilhar com amigos!

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