quarta-feira, 27 de março de 2013

Casei, me mudei, e agora?

by Ingrid


“Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti”, disse Rute à sua sogra Noemi quando esta lhe instou novamente para voltar à casa de seus pais e ao seu povo. Assim, Noemi parou de insistir com ela e continuaram sua viagem. Caminharam por cerca de dez dias, na terra árida da Palestina, quando chegaram à Belém, cidade natal da sogra. Ora, talvez você se pergunte por que alguém estaria tão obstinada a seguir sua sogra para qualquer lugar. Bem, Rute amava sua sogra. Aconteceu que ambas haviam se tornado viúvas e, tendo grande fome na terra em que habitavam, migraram para a pequena cidade de Belém, onde ouviram que havia alimento.

Então, Rute, tendo acabado de perder seu marido, havia deixado pai, mãe e a terra onde nascera para ir a um lugar desconhecido, a fim de não deixar sua sogra desamparada. A situação não era nada fácil: duas mulheres sozinhas – sendo uma delas estrangeira, e a outra já idosa –, precisando de comida e dinheiro para as suas despesas diárias, mais de 3mil anos atrás, em uma época em que uma mulher desamparada praticamente tinha apenas duas opções de vida: prostituição ou mendicância. E Rute estava bem consciente disso.

Ao chegar à nova cidade, Rute, que havia passado por mudanças drásticas em sua vida nos últimos dias, logo se aprontou para ir ao campo arrumar alimento. Não, ela não iria roubar comida do campo de outros. Havia uma lei na época que proibia os agricultores de colherem nos cantos e de apanharem as espigas caídas, para que as pessoas necessitadas tivessem onde buscar alimento. Por casualidade, ela entrou num campo que pertencia a um dos parentes de sua sogra e começou a colher espigas. Ficou por lá manhã e tarde, trabalhando diligentemente em sua nova tarefa.

Vendo-a, o dono do campo perguntou a um de seus trabalhadores quem ela era. E logo ele respondeu que era a moça que saíra de sua cidade para acompanhar Noemi. Sabendo de tudo o quanto havia se passado após a morte de seu marido, o dono do campo se compadeceu dela e lhe disse para não passar adiante, mas sempre colher ali em seu campo. E proveu para ela alimento, bebida, proteção, e ainda lhe chamou para se assentar com ele e seus trabalhadores na hora de comer; ela, então, comeu e se fartou. Foi assim que Rute conheceu seu futuro marido.

Assim como Rute, não são poucas as pessoas que deixam família, amigos, rotina e se mudam de cidade para acompanhar alguém que amam. Se você é alguém nessa situação, seja bem-vindo, você não está sozinho. E espero que a história de Rute seja tão interessante para você quanto foi para mim.

Rute mudou de cidade para acompanhar alguém que amava e precisava dela. O que chama atenção na história é a forma como ela reagiu:

1) Rute se mudou de bom grado. Foi dada a ela a oportunidade de ir para outro lugar, de voltar ao seu estilo de vida antigo; mas ela tinha consciência da família a qual pertencia agora. Então, a isso, ela respondeu: “faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti”.

2) Rute não ficou murmurando sobre o seu duro destino. Ao longo de sua história, não se veem reclamações sobre a forma como a vida tem sido cruel para ela, ou por ter sido deixada sozinha quando seu marido morreu, ou por estar passando fome, ou por ter apenas uma sogra velha como companhia. Rute está bem consciente da situação trágica em que se encontra, mas ao invés de murmurar ou sentir pena de si mesma, ela prefere gastar suas energias na busca de soluções para seus problemas.

3) Rute não se focou nos problemas da nova cidade. Pelo contrário, ela logo viu o que de positivo a cidade tinha de oferecer para ela e sua sogra, nesse caso: alimento.

4) Rute não se trancou dentro de casa. Ao chegar à cidade, Rute logo arruma uma tarefa. Ela não se tranca em seu quarto e chora copiosamente. Ela vai diligentemente ao campo durante todo o período da colheita, manhã e tarde.

5) Rute não se fechou para as pessoas. Ao perguntarem por sua identidade, as pessoas sabiam dizer quem ela era. Ela também aceitou de bom grado quando convidada por alguém que ainda não conhecia tão bem. Ao invés de apenas lamentar a perda e a distância das pessoas queridas, ela abriu-se a novas amizades.

6) Rute se integrou à vida da nova cidade. Não era a rotina a qual estava acostumada, e provavelmente não seria sua preferência, caso as circunstâncias permitissem, mas ela se juntou à rotina de várias pessoas na cidade para prover para sua casa aquilo que precisava.

Talvez você esteja pensando que Rute não era muito sensível, ou talvez não fosse muito apegada à sua família e à sua cidade natal. Não! Não é que Rute não fosse muito emotiva; certamente ela chorou em muitos momentos diante dos acontecimentos trágicos de sua vida. Mas Rute se apegava ao que era certo, ao Único que devemos nos apegar – Deus. Ela sabia que devemos depender somente dele e buscar refúgio sob as suas asas. Quando colocamos nossos alicerces sobre outras coisas e pessoas, ou nos consideramos autossuficientes, perdemos a visão certa diante das provações e fazemos drama, mergulhamos em autocomiseração. É dito na história que toda a cidade sabia que ela era mulher virtuosa. Rute é a personificação da mulher virtuosa descrita no texto de Provérbios 31.

O fim da história, para quem não sabe, foi assim: Rute se casou novamente com o dono do campo e tiveram um filho. Anos mais tarde, esse filho teve também um filho, que teve outro filho. E este era Davi, o pobre camponês que veio a ser o melhor rei que Israel já teve e um homem segundo o coração de Deus – sim, aquele mesmo que matou o gigante Golias. Mas tudo isso não teria acontecido se Rute não tivesse amorosamente acompanhado sua sogra até Belém.

Nós não temos a menor ideia do que está destinado a nós ao sairmos de nossas tão amadas cidades. Deixar para trás pai, mãe, irmãos, amigos, trabalhos, estudos, lugares preferidos nunca é fácil, mas você tem a opção de agir de uma forma virtuosa diante dessa situação, deixando com que Aquele que sabe de todas as coisas desvende lentamente as maravilhas preparadas para você.



*Este texto é dedicado às queridas amigas, de sotaques lindos e diferentes,
que seguem acompanhando seus maridos ao redor do Brasil (e do mundo),
e agindo de forma tão virtuosa ao fazê-lo.

14 comentários:

  1. Muito bom!! Hoje em dia é muito comum isso acontecer também: mudanças por conta do trabalho do marido, da família que precisa de ajuda, de estudos, essas coisas... Ou simplesmente a mudança por conta de uma ordem de Deus. De fato, tudo pode mudar, mas nosso Deus é o Deus eterno, que não muda, nunca, e que nos dá abrigo e segurança de espírito até mesmo nas mais difíceis das mudanças. Eu, como esposa de futuro pastor, sei que terei que estar bem preparada para mudanças, tanto de igreja, quanto de cidade, estado ou até país. Que suas palavras e sua experiência abençoem a muitas, Ingrid! Obrigada pelo texto confortante.

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    1. Tá, mas não deixo tu ir embora não! :)

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    2. huahauhau, tu vai me segurar é? Se quiserem, podem ir com a gente. Formaremos uma igreja ambulante XD

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  2. Muito bom texto, filha! Aproveitando o que você mencionou: na Bíblia Hebraica, o Livro de Rute segue imediatamente o de Provérbios, tipo uma ilustração da mulher virtuosa apresentada ali, no último capítulo. Deus continue abençoando e usando você e Drika através do blog!

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    1. Nossa, pai! Que informação interessante! Não sabia disso não! Gostei! :)

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  3. Texto bem propício para um dia em que estou há 1 mês com meu marido em uma cidade nova, num leito de hospital, no dia no nosso aniversário de casamento! Hehehe

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    1. Pois é, amiga! Em certas situações parece que a falta da família e amigos fica ainda mais evidente. Mas cada detalhezinho da nossa vida é bem evidente pra Deus, ele não está alheio a nada. E ele que te colocou nessa situação, vai ajudar você a passar por ela. Melhoras, viu?

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  4. Ingrid, que belo texto. Concordo plenamente com você. Vivo essa experiência neste momento. Me mudei há 9 meses para os Estados Unidos, para onde meu marido foi transferido a trabalho. Deixei pra trás as nossas famílias, nossa antiga casa, meu emprego, meus amigos, nossa igreja e uma cidade em que vivi a vida toda. Não foi fácil a adaptação, mas vejo claramente que Deus trabalha de forma grandiosa nas nossas vidas quando nós saímos da nossa zona de conforto. Aqui, sem a loucura do meu trabalho, desenvolvi a prática da leitura da palavra e da oração diariamente. É claro que eu orava em S. Paulo, mas não levava isso tão a sério como faço aqui. Lá era algo que eu encaixava na agenda maluca que priorizava tudo menos o meu Deus. Aqui O MAIS IMPORTANTE se tornou prioridade. Foi aqui que completei a leitura da bíblia, que comecei a estudar teologia, que aprendi a orar com mais profundidade, que compreendi que a soberania de Deus vai além do meu entendimento, etc. O aprendizado não se dá apenas no campo espiritual. Aqui estou tendo a chance de aprender a cuidar melhor da minha casa e do meu marido. Compreendo que se Deus não me tirasse da minha vida caótica de S. Paulo eu jamais pararia de trabalhar. Eu jamais cozinharia todos os dias, eu jamais prestaria atenção nos detalhes que podem deixar a minha casa mais confortável para minha família. As vezes sair de nossa cidade, nos abre os olhos não apenas para uma rotina nova, mas também para olhar com mais cuidado pra dentro de nós mesmos. Creio que Deus usa esses fatos da vida de maneira diferente para cada pessoa, mas creio que a maneira como você colocou a história de Rute nos faz ver que, acima de tudo, nós temos que estar onde Deus quer que estejamos, no centro de sua vontade, e prontas a obedecer, onde quer que seja, com quem quer que estejamos.
    beijos

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    1. Oi, Fabiana! Que bom ler sobre a sua experiência e ver Deus agindo tão claramente na sua vida. Quando Deus nos coloca em uma situação em que somos levados a deixar tudo para trás, percebemos que aquelas coisas não eram tão importantes assim e que, na verdade, muitas vezes elas eram pedra de tropeço para nós, nos fazendo acreditar que tínhamos qualquer controle de nossas vidas. Como é bom saber que Deus nos ama demais ao ponto de nos trazer mudanças tão radicais a fim de exercitarmos nossa dependência dele. Que ele a ajude a desenvolver as suas habilidades como esposa e cuidadora da sua casa. Beijos!

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  5. Excelente texto! Muito bom Indy! E fiquei muito feliz de saber que vc me ama mesmo longe!! (sim, eu consegui extrair essa informação daí...hehe)
    Realmente uma excelente visão do assunto, e fico feliz de ver que você está colocando tudo isso em prática. Que Deus continue te abençoando e te fazendo crescer, como Ele, claramente, tem feito.
    Amo-te!

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    1. Mas é claro que essa informação tá no meu texto! Te amo muito!

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  6. Gostei muito do seu texto, Ingrid. E vale ressaltar que a Rute nem tinha os recursos de comunicação que temos hoje, o que - com certeza - nos ajuda quando a saudade bate à nossa porta vez por outra.

    Que Deus continue te abençoando em sua nova e tão diferente cidade!

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    1. oi, Marilene! Brigada pela leitura! Realmente, telefone e redes sociais fazem toda a diferença nessas situações! Ainda assim, a presença e convivência das pessoas amadas fazem muita falta! Mas você sabe bem o que estou dizendo, afinal, essa experiência também é sua! :)

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  7. Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
    reparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
    Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
    decerto que virei aqui mais vezes.
    Sou António Batalha.
    Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
    PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
    siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.

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