Por Drika Vasconcelos
(Antes de postar Parte II da sequência sobre namoro, decidi mudar o assunto um pouco!)
Toda fase da vida tem seus desafios e suas etapas a serem
vividas de uma forma ou outra. E cada um de nós lidamos com esses problemas e
as preocupações de formas diferentes. Mas tenho certeza que a forma mais
popular de todas — e que, inclusive, é o meu pecado predileto — é a ansiedade.
Convenhamos, né... Parece ser a tendência natural do nosso coração. Os dias
passam, as angústias acumulam, e o coração vai se apertando cada vez mais.
Muitas vezes, parece que estamos sendo sufocados pela expectativa daquilo que
irá ou não irá acontecer.
Uma amiga hoje falou para mim que estava um tanto
estressada. Minha reação automática foi cantar em tom de brincadeira a música Mais
uma vez de Renato Russo para ela.
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.
(Letra completa: http://letras.mus.br/renato-russo/1213616/)
Vamos ser honestos... a música é inspiradora, né? O sol virá
amanhã, as coisas vão melhorar, confie em si mesmo que vale a pena e você vai
conseguir, certo?
Não.
No fundo, fundo do coração, sabemos que não existe promessa
mais mesquinha do que a de que amanhã será melhor. Quem somos nós para garantir
isso? Quem é você? E se o dinheiro não der mesmo? E se eu morrer solteira? E se
eu não passar no concurso? E se ele ou ela não conseguir melhorar da doença?
Isso acontece todo dia, porque não aconteceria comigo? Eu sou diferente ou
especial para esperar algo melhor para mim? Será que o truque para meu sucesso
é confiar mesmo em mim mesma? Será que eu sequer sei o que de fato é melhor
para mim? Eu sequer consigo garantir minha próxima batida de coração?
Não. Não há para onde escapar.
O mundo está mergulhado na ansiedade. Parece que quanto mais
nós temos, mais nós tememos. Estamos caindo aos pedaços, amedrontados,
sufocados e angustiados. Queremos viver por mais tempo, então nos obcecamos
pelo que comemos e como nos exercitamos. Queremos garantir nosso sustento,
então trabalhamos horas a mais, sobrecarregados, arrancando os cabelos para
chegar ao topo. Queremos ser felizes, então pomos todo o resto a risco para
tentar encontrar a tal felicidade que nunca chega. E quando nossos planos não
dão certo ou demoram para serem realizados, somos engalfinhados pela ansiedade.
Vou ser sincera. A ansiedade é um dos meus pecados
prediletos. Eu gosto de ser organizada e planejar tudo com antecedência, o que
é uma coisa boa, mas, por outro lado, esse hábito me dá a sensação às vezes de
que consigo controlar alguma coisa na minha vida por me preparar e tentar
resolver tudo previamente. Às vezes me pego tentando imaginar o futuro e cada
problema que poderá surgir pra ter certeza de que estou preparada para fazer
tudo dar certo. Ontem, por exemplo, o plano era ir pra consulta médica e, logo
depois, buscar meu pai que ia passar um dia conosco antes de voltar para os
EUA. Estava tudo preparado em casa, inclusive o jantar especial no qual a gente
havia investido um pouco mais de dinheiro. Aconteceu que, para nossa tristeza,
papai descobriu que o voo sairia naquele mesmo dia, ao invés do dia seguinte.
Eu literalmente desmoronei e achei que o mundo havia acabado. Perguntem ao meu
marido, ele sabe bem como não consigo lidar com mudanças de planos.
E eu sempre soube que ansiedade é “desaconselhada” pela
Bíblia. Mas nunca de fato parei para estudar isso mais a fundo. Então, por amor
ao meu filho que nascerá em Janeiro e está tendo que aguentar os nervos da mãe
ansiosa, decidi ler e compartilhar com vocês.
1 Pedro 5.5-10 (ARA)
Ansiedade é sinal de soberba e orgulho. Deus resiste aos
soberbos, mas dá graça aos humildes. Ao nos humilhar, devemos reconhecer o
poder de Deus e, consequentemente, abrir mão da nossa ansiedade. A nossa
ansiedade contínua é indicativa da nossa rebelião contra Deus, do nosso orgulho
que insiste em querer tomar o controle do nosso destino.
A ansiedade nos torna egoístas. É até fácil identificar uma
pessoa que está muito ansiosa, porque ela dificilmente prestará atenção nos
problemas dos outros. Temos a tendência, quando estamos ansiosos, de nos isolar
no nosso universo e nos afogar nos nossos problemas. Pedro aqui está nos
lembrando dos nossos irmãos que estão passando ou já passaram por situações
semelhantes e até piores que as nossas. Ele nos convida a sair desse mundo
fechado e sombrio que criamos ao nosso redor com a nuvem da ansiedade pairando
por cima e a lembrar as necessidades e aflições dos outros.
A nossa ansiedade despreza o poder transformador do
sofrimento. Na ansiedade, queremos tanto evitar a dor e o sofrimento, que
menosprezamos ou rejeitamos algo que poderá vir a ser algo transformador na
nossa vida e na vida dos que estão ao nosso redor. Pedro diz que Cristo lança
mão do sofrimento para nos “aperfeiçoar, firmar e fundamentar”. Lembremos de
Romanos 8.28.
Ansiedade nos escraviza ao objeto da nossa ansiedade. Jesus
está se referindo aqui à servidão, não aos empregos que temos hoje entre os
quais podemos alternar — trabalhar num canto de dia e noutro canto a noite. Nesse
caso, há apenas um senhor e todos os afazeres eram regulados e controlados por
ele. Aqui, fala-se de riquezas, mas podemos aplicar isso a qualquer ídolo na
nossa vida que tira de Deus a nossa atenção, devoção, adoração e amor. Para
sermos mais sinceros ainda, se formos levar bem em consideração os detalhes
desse versículo, veremos que essa escravidão
escolhida que gera ansiedade evidencia ódio e desprezo pelo próprio
Deus!! Bem sério isso, não é?! Bem mais sério do que eu imaginava antes! Ao
andar ansiosa, estou odiando a Deus! Não sei você, mas isso me assustou!
Mateus 6.25 (ARA)
A ansiedade desvaloriza a vida e a reduz ao materialismo. Será
que Deus nos criou e nos salvou apenas para comermos e nos vestirmos? Será que
nossa vida para Ele é só isso? Obviamente, são perguntas retóricas e que são
fáceis de responder agora com um ressonante “Não!”. Mas nosso coração é
enganoso e necessita de constante sondagem, disciplina e lembrança.
Mateus 6:26-27 (ARA)
A ansiedade nos torna inertes e impotentes. É a conclusão
lógica esse texto. Em Lucas 12, falando sobre o mesmo tema, Jesus diz: “Porquanto,
se não podeis fazer nem as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas
outras?” Cristo aqui afirma que é impossível mudar qualquer coisa através da
nossa preocupação. Não adianta arrancarmos os cabelos. É mais provável que
nossa ansiedade nos faça morrer mais cedo do que nos manter vivos por mais
tempo.
Em contrapartida, Jesus nos manda observar o cuidado que
Deus tem pelas aves. O pássaro não é capaz de plantar, colher, armazenar,
comprar no supermercado, etc. Ele busca e come o que tiver na hora que lhe for providenciado.
E é Deus quem providencia. Não significa que devemos parar de planejar,
trabalhar e nos preparar. Os provérbios de Salomão nos adverte bem quanto a
isso (Provérbios 6.6). Mas, ao trabalharmos e nos planejarmos, precisamos
manter em mente que quem garante nosso sustento e nossa própria vida é Deus
(Provérbios 16.1)!
Mateus 6.28-30 (ARA)
Deus proverá! Já foi falado, mas nunca é demais repetir. É
simplesmente isso! Se colocarmos de lado nossos ídolos, nossa autoconfiança,
nosso orgulho, nosso desprezo pela soberania do nosso Senhor, perceberemos que,
de fato, Deus proverá. No início, Deus criou todas as coisas não somente para
Sua glória, mas também para o sustento e o prazer do homem. Ora, se Deus cuida
da natureza que Ele criou para nós, quanto mais Ele não cuidará de nós, os seus
filhos!
Ansiedade é fruto de descrença em Deus. “Homens de pequena
fé”. Eis a raiz do problema! Jesus usou exatamente esse mesmo termo com Pedro
quando esse saiu do barco no meio da tempestade para andar sobre as águas e se
encontrar com Cristo na metade do caminho. Pedro começa andando tranquilamente,
mas começou a duvidar... Afundou. Jesus o salvou e o repreendeu: “Homem de
pequena fé, por que duvidaste?” (Mateus 14.31). Nossa ansiedade, minha
ansiedade, sua ansiedade, é fruto de uma descrença em Deus. É fruto de uma
desconfiança pecaminosa que nos faz duvidar da fidelidade Dele ou se de fato
Ele é capaz de fazer aquilo que Ele prometeu. Estamos praticamente chamando-o
de mentiroso, que é algo sério. Lembra o que Jesus falou aos fariseus? Não?
Então leia João 8.44.
Mateus 6.31-32 (ARA)
Deus é nosso Pai celeste e não está alheio às nossas
necessidades. Ele nos criou e conhece melhor as nossas necessidades do que nós
mesmos! O simples fato de estarmos respirando agora mesmo depende inteiramente
da vontade Dele. Não há um milímetro da nossa vida da qual Ele não esteja
ciente.
Mateus 6.33-34 (ARA)
Ansiedade é uma desestruturação das nossas prioridades. Ela
surge quando buscamos primeiro os nossos próprios interesses e deixamos Deus e
a Sua vontade para depois. Fomos criados e estruturados para direcionar nossa
vida para Deus e buscar a Sua vontade.
Para cada dia, há seu problema e sua graça! É engraçado que
muitas vezes tentamos acalmar uns aos outros afirmando que amanhã será melhor,
que os problemas passarão (como a música do Renato Russo). Já Jesus não fala de
sol nem flores amanhã. O convite Dele é até de assustar! Tomar a cruz? Ser
perseguido? Rejeitado? Sofrer? E aqui Ele fala que amanhã virá com seus
próprios problemas. É o esperado, o senso comum dita isso. Mas com isso
lembramos também da oração de Jesus na qual Ele nos ensina a pedir “o pão nosso
de cada dia” (Mateus 6.11). Cada dia. Uma ilustração fantástica para isso é a
história dos israelitas quando estavam no deserto comendo do maná que caía
diariamente. Era impossível eles armazenarem comida de um dia pro outro, porque
o maná apodrecia. Precisavam confiar que Deus os sustentaria cada dia. Da mesma
forma, Jesus nos diz que basta a cada dia o seu mal. E para cada dia, há a
graça suficiente de Deus para nos sustentar.
Lucas 12.13-34 (ARA)
Não temas! Lucas aqui registrou Jesus falando sobre o mesmo
assunto em outro local. Destaquei esses versículos por ser um trecho diferente
nesse sermão do que no sermão em Mateus... e também pelo fato de que me
emocionou ler tais palavras vindas do nosso querido Mestre. “Não temas, ó
pequeno rebanho!” Imagino-o sentado na grama, sorrindo e exclamando isso com
uma certa ternura e compaixão na voz. Jesus encarnou e andou na terra como ser
humano. Ele sentiu na pele as necessidades que nós temos no dia-a-dia. Eu acho que
Cristo foi a pessoa nesse mundo que mais teve, digamos, “motivo” para
ansiedade, pois Ele sabia bem do sofrimento que estava por vir no final da Sua
vida e Ele foi tentado várias vezes a desistir (aliás, uma grande ênfase aqui
no fato de que ser tentado não é a mesma coisa que pecar). No entanto, Ele se
submeteu em mansidão e entregou Sua vida por nós. E eis que tamanho amor,
mansidão e submissão se vira para nós, imersos nas nossas preocupações, e
exclama “Não temas, ó pequeno rebanho!”. Não temas...! Deus já nos deu o Seu
reino! Desprenda-se da sua ansiedade e invista naquilo que é eterno: no Reino
de Deus.
Apesar da grande tentação, é impossível seguir adiante num
único post, listando e estudando cada texto da Bíblia que se dirige ao nosso
coração nesse aspecto. Mas eu gostaria de deixar umas sugestões de leitura e
estudo.
- Filipenses 4.6-9 – Somos chamados a substituir nossa ansiedade por pedidos de súplica a Deus e substituir nossos pensamentos de ansiedade por pensamentos diferentes que transformarão nossa forma de pensar e viver.
- Salmo 34.10 – Tão simples, mas tão verdadeiro!
- Jeremias 17.7, 8 – As bênçãos da confiança em Deus
- Jeremias 29.11-13 – Deus sabe o que Ele está fazendo.
- Isaías 46.3-4 – Amo tanto esses versículos que tatuei no meu tornozelo para me lembrar todo dia quem de fato me sustenta e guia meus passos! Deus me conhece, sempre me sustentou e sempre me sustentará!
- Salmo 139 – Simplesmente um dos capítulos mais lindos da Bíblia. Vale a pena ler, estudar, guardar no coração e orar como Davi orou.
Tanto Renato Russo quanto muitos outros infelizmente
procuraram e procuram confiar em si mesmos para resolver seus problemas. Mas
Deus nos chama a abrir mão dessa confiança tão frágil e enganosa. Horatio
Spafford (1828-1888) descreve isso em palavras magníficas pouco depois de
perder todas as suas posses num incêndio e suas quatro filhas num naufrágio:
Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte sofrer,
Oh, seja o que for,
Tu me fazes saber
Que feliz com Jesus sempre sou!
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