quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Como conviver com a bagunça (de um marido escrevendo monografia)

Por Drika Vasconcelos

Se você entrasse na minha casa hoje, você veria isso:


Sim, são pilhas de livros no chão, lá no fundo. Quatro pilhas, para ser mais exata. E olha que não cabem mais na única estante que temos para isso! E esse é o canto do pequenino João Gabriel que estará chegando em janeiro:


Eu sei. Cadê o berço, né? Cadê as coisas do bebê (metade está guardada numa mala e metade está numa dessas prateleiras)? Na verdade, cadê o espaço? Cadê o topo da mesa? Nem me fale, que ainda estamos tentando descobrir como ajeitar isso tudo sem gastar muito dinheiro!

Bem-vindos. Isso se chama vida. Com um marido estudando para se formar no final deste ano e comigo concluindo o ano de trabalho(s) até o bebê chegar, não é de me espantar que isso tem se tornado uma realidade com a qual tive que aprender a conviver. Se você leu Ansiedade: O pecado oculto, viu que não sou muito chegada em desorganização. Aliás, essas coisas tem servido muito como lição no dia-a-dia para eu aprender a confiar em Deus e largar de ser perfeccionista. E tem sido uma luta diária. Eu não gosto de não poder usar minha mesa de imediato. Eu não gosto de ter que me desviar para não derrubar uma pilha de livros. Na verdade, eu não gosto de ver qualquer coisa que seja fora do lugar (a não ser que esteja sendo usado naquele momento imediato).

Já meu marido não pensa bem assim. Para ele, se há espaço, é para ser usado. E isso inclui o chão, o sofá, a mesa e as cadeiras. Eu brinquei com ele esses dias sobre usar os livros para construir um berço pro João Gabriel. Na verdade, eu tenho pecado um pouco em frustração e raiva por vê-lo comprar tanto livro sem termos onde colocar e ainda com um bebê a caminho que só Deus sabe onde vai caber. Nossa vida é assim: uma aventura.

Como solteira, eu tinha a liberdade de passar horas e horas arrumando minhas coisas, sem ter que me preocupar com comida, roupa, e qualquer coisa mais séria. Como solteira, eu poderia pegar um livro e decidir na hora se eu queria me livrar dele ou pegar um documento ou qualquer coisa que fosse e decidir seu destino prontamente, sem ter que consultar alguém no final do dia a respeito. Como solteira, eu tinha meus livros e meus DVDs e minhas coisinhas que cabiam tranquilamente no espaço que eu tinha e, se não coubessem, eu pegava emprestado espaço da mamãe para me organizar.

Mas agora, tudo mudou. Como casada, eu ainda não aprendi quando uma roupa dele está suja e precisa ir pra máquina ou quando a roupa está no sofá pra ser usada no dia seguinte. Como casada, eu ainda não aprendi como lidar com o que me parece bagunça, mas que, para meu marido, é essencial que permaneça daquele jeito para que ele não perca alguma coisa. Como casada, eu ainda não aprendi a lavar a louça enquanto cozinho para evitar que se acumule até o dia seguinte, caso ele realmente não tenha tempo para lavar. Como casada e com seminarista nos últimos dias do seminário, eu tive que abrir mão dos meus horários reguladinhos e dos sonhos culinários que demorariam tempo demais para serem realizados (algo que eu também não tenho tido ultimamente).

Como casada, precisei aprender (e estou aprendendo ainda) a viver a dois. Como?
  1. Aceito que faço parte da bagunça. Muitas vezes, eu reclamo da bagunça dele, mas quando vamos arrumar um pouco, percebo que há muitas coisas minhas também misturadas e empilhadas juntamente com as dele. Okay, ele é bagunçado, mas eu também tenho me deixado relaxar nesses últimos tempos. Perceber isso já me desarma um pouco.
  2. Um pouco de bagunça dá pra tolerar. Não há pecado em deixar uma bagunça aqui e acolá, contanto que isso não impeça a vida diária de fluir. A casa foi feita para ser ambiente de vida. Ninguém consegue manter tudo bonitinho a hora toda. O importante é saber quanta bagunça é tolerável e quando realmente é hora de ajeitar as coisas (quando a cama se torna o único lugar da casa para se sentar, por exemplo).
  3. Não deixo as coisas para depois. Okay, às vezes eu deixo. Isso porque antigamente quando eu era solteira, eu tinha tempo e privacidade para arrumar por horas a fim. Hoje, haha! Quem dera. Portanto, tenho tentado criar o hábito de fazer na hora. Pensou? Lembrou? Fez. Ou isso, ou anoto em algum lugar para não me esquecer. Isso, aliás, me ajuda bastante na questão da ansiedade também, especialmente porque eu sou uma esquecida e se eu não fizer na hora ou anotar, as coisas vêm me incomodar direto e toda vez me frustro por não saber quando ou como irei cuidar daquilo.
  4. Tento concentrar a bagunça. A bagunça começa a se tornar um problema quando ela se alastra pela casa inteira. Isso significa que você (se for que nem eu) não tem paz onde você estiver. Antigamente, em casa, a bagunça ocupava ambos os sofás inteiros (eu precisava caçar um lugar para sentar para relaxar depois do trampo), a mesa (porque qualquer superfície é lugar de se colocar as coisas, né?!), e até a cama (essa era minha mania de botar as roupas limpas em cima da cama e não guarda-las na hora, deixando-as se acumularem). Hoje, tenho tentado no mínimo manter o espaço da cozinha livre de bagunça, além dos sofás e da cama (afinal, são para dormir e sentar e relaxar, né?!)
  5. Tenho um espaço só meu. No momento, como a casa tem sido tomada por livros e computador do marido (vida de seminarista não é fácil, não!), e como não tenho organizado minha mesa no quarto sabendo que em poucas semanas estarei desfazendo-o me daquele móvel para dar lugar ao berço e cômoda do baby, meu espaço pessoal tem sido do lado de fora: o meu canteirinho. Tá, não é bem um canteirinho. É uma jardineira na qual plantei sementes de hortaliças e que estão no processo de brotar e crescer. Todo dia de manhã, antes de sair pro trabalho, rego as plantinhas. E quando volto, é impressionante como sentar ao lado e só olhar para elas e sonhar com um canteiro bem cheio de manjericão, alecrim e orégano, me relaxa e assim consigo encontrar coragem de enfrentar o que tem dentro de casa.
  6. Tenha o importante bem guardado. Guardo (ou tento guardar) as coisas mais importantes (documentos, remédios, meu celular, minha bolsa, etc.) em lugares onde não serão vítimas da enxurrada da bagunça. Isso facilita na hora de urgência e é mais do que organização: É responsabilidade. Pastas para documentos, gavetas no banheiro para remédios, etc.
  7. Amo. Simples assim. Meu marido não é agoniado que nem eu, ele nunca foi. Se fosse, acho que nós dois iríamos perder a cabeça juntos. Graças a Deus pela tranquilidade dele! E tanto ele quanto eu temos falhas que precisam ser toleradas e aceitas pelo outro. Eu nunca vou conseguir torna-lo o senhor todo-arrumado. Muito pelo contrário, acho que ele tem mais chance de me converter pro lado mais relaxado! E ele nunca conseguirá consertar a minha droga de incapacidade de lembrar muitas vezes de coisas importantes. Eu simplesmente desligo às vezes. Por isso, eu tenho uma agenda. Não consigo pensar em mais de uma coisa ao mesmo tempo. A tolerância e aceitação dessas coisas é essencial no ato de tornar-se um no casamento.
  8. Incentive em amor. Meu marido gosta demais das minhas listas e minha agenda. Toda vez que eu abro para discutir planos com ele, ele me elogia. Isso me encoraja e me faz sentir que meus cuidados não são em vão e que contribuem para o funcionamento da casa. Já eu tenho tentado parar de reclamar da bagunça e torná-la mais uma questão de família do que um problema só dele. Afinal, somos uma equipe e temos que resolver as coisas em equipe (ou sofrê-las juntos!). Tenho tentado encontrar soluções práticas e amáveis para incentivá-lo tanto nos estudos dele quanto na manutenção da casa. Eu odiava, por exemplo, quando ele ia dormir de madrugada fazendo trabalho, tanto é que ele deixou de fazer isso muitas vezes por amor a mim e tentou se adaptar ao meu horário. Hoje, eu entendo a necessidade dele de esticar as horas noturnas (é quando a cabeça dele funciona melhor) para fazer trabalhos e tenho ido dormir sem ele, sem reclamar, para ajudá-lo nesse sentido.
  9. Minha vida vale mais do que o quão limpa minha casa está. Algumas vezes, de fato, a desorganização te impede de viver com mais tranquilidade. Mas a questão é simples: Eu fui criada por Deus para servir a minha casa ou minha casa foi me dada por Deus para servir a mim? Nenhum dos dois! Eu fui feita para servir a Deus com minha casa! E Deus não requer de mim perfeição ou um chão brilhante. Ele requer um coração grato e arrependido e servo. "Eis que é o obedecer é melhor do que o sacrificar..." (1 Samuel 15.22) Portanto, preciso me lembrar diariamente das verdadeiras prioridades da minha vida e sempre me questionar: Por que eu acho que só encontro paz se minha casa estiver organizada? Vale a pena sacrificar meu amor pelo meu marido por isso? Meu amor por Deus? Será que uma casa arrumada tem se tornado um ídolo para mim?
Enfim, eu sei que precisarei ainda me acostumar muito com isso, especialmente com um pequenino vindo por aí. A casa é orgânica, não estática. As coisas ficam limpas, ficam sujas, precisam de manutenção, dão conforto, mudam, transformam, etc. Estou aprendendo a aceitar isso. Quem sabe no futuro não posto uma foto de como o canto do bebê finalmente ficou!

Estou amando esta vida de aprendizagem e adaptação! A vida a dois (e em breve, a três!) é uma de viver pelo outro e por Deus.

3 comentários:

  1. Que loucura é a vida de casada! E quanta sabedoria! Parabéns pelas postagens e pelo bebê! Espero continuar vendo suas postagens muito edificantes. :*

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  2. É uma preparação para quando o baby chegar MESMO!! rs

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  3. Nossa!!!!! Se essa é a bagunça que ele faz eu ainda não terminei minha busca de encontrar um bagunceiro igual ao meu. Minha casa dá vergonha de entrar. Nada fica no lugar se meu marido estiver em casa e ele não tem a menor noção de ordem. Se eu arrumo ele bota logo defeito ... não está achando nada, sou estressada, reclamo de tudo e por aí vai. Dá vontade de deixar tudo sujo até ele não aguentar mais. Só não tenho essa coragem ainda...

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